Marcelle

Já não sinto mal que possa
ser mais que a dor que sinto.
Juro na crença, não minto.
O mundo caiu, a vida se apagou.
Foram luzes que sumiram da visão
marcando as sombras, os escarros da vida
na existência sem motivos, nem porquês.
Às vezes a inveja, sempre, porque não,
grita bem forte dentro de mim.
Uma mulher gestando, uma filha desabrochando,
me gritando de pai.
Nem tenho vontade de prosseguir.
Uma fagulha vai no olho, molha as faces.
Há pouco de desejo, de calor.
Um pouco de medo, remorso e mágoa,
dor com a vida, doença de amor.
As respostas hão de vir; que sejam convincentes
para quebrar a monotonia de querer ser,
quem sabe, ter tido a função saborosa de ser...
Há uma mistura confusa em tudo o que tento.
A cabeça fica fora, sem jeito de explorar
o bastante pouco que posso ofertar,
mas, o rabisco é minha filiação.
Me decanto quando aqui estou.
Deploro quando ouço.
Vejo que sou um poço,
um vazio frustrado sem razões
até mesmo para escrever o que vai aqui dentro.
Ora, se há um vazio... Nada a se queixar.
Mas, me lamento pela inveja,
pelo desengano que ficou,
Marcelle que não desabrochou
e mais e mais pela genitora que viajou
no galope macio, sem brigas,
com largadas longas pela chuva breve,
no eterno inverno das invejas,
onde mora pecador.