Apenas um fato

Livre,
livre para ver, sentir
que o sol não é tão sol,
nem a chuva molha tanto,
tanto quanto a dor da saudade.
Livre,
livre para nascer em qualquer lugar,
fechar bocas com beijos,
beijos sem expressão,
momentos sem gotas,
sem pingos azuis de festas.
Livre para semear gens,
ver frutos verdes,
talvez amargos, sem sabor de vida.
Livre,
livre para seduzir,
retornar, fugir,
apagar sonhos, acender chamas,
fazer brasas em cinzas
e contemplar o cinzento adeus,
deixar chorando, sair sorrindo.
Livre em obscuras tentativas,
fazer fitas, trançar tramas,
tocar fitas, dançar nas camas
e rasgar o véu do pudor
rompendo o céu do falso amor,
sem questionar ninguém,
sem perguntas para mim.
Livre também, sem respostas!
Livre, sempre livre
para fazer do nada o encontro,
da vida o ato,
do amor, dos sonhos, apenas um ponto
que libera, fascina,
na incúria de ser livre, somente um fato.