A última lágrima de despedida.

Ontem, brasa

Hoje, cinzas

Sentem-se juntos à mesa

Destarte, algumas vezes

Riam-se de si próprios, mutuamente

Jante-se os anos que se seguirem

Se cinzas houver

Juntem-nas

Antes que o vento as carregue

Um dia

A companhia da solidão

Aproxima-se de todos nós

Até mesmo a própria mesa

Um dia há de ser pó

Pra juntar-se a si mesma

Sem qualquer dimensão

Cisma, separação

Nenhuma dor norteia

O nó da madeira

Sob a lâmina que corta

A árvore que era

Agora tanto faz

Eu pensei que jazia morta

De sorte que mesmo assim

Forte permanecia

Ontem, de alma atenta

Perto do fogo se ouvia

O nó da madeira a chorar baixinho

Sua lancinante tristeza

De sorte que vida havia

Na seiva caramelada

De um resto de mesa

Do pouco que fomos um dia

A última lágrima de despedida

Tristemente escorria.

Edson Ricardo Paiva.