SEM LUGAR PARA A TRISTEZA
 
Sei que sou emotivo, um verdadeiro chorão,

Que debulha em lágrimas perante à beleza.

Vivo chorando á toa, por qualquer emoção,

Me consumo no ódio, e sou sujeito à paixão,
Porém jamais aprendi a chorar de tristeza.
 
O funeral é coisa que sempre me aborreceu.
Esse é um evento que só me inspira a frieza.
Porém não é desrespeito com quem faleceu
Porque se pudesse, eu não iria nem no meu,
Só para evitar respirar aquele ar de tristeza. 
 
Chorei muito de alegria, já ch
orei por amor; 
Ternas canções me tiram lágrimas copiosas,
Já chorei de saudade, e por sentir muita dor
Por passar muito frio, já chorei até de calor,
Mas chorar de tristeza acho coisa horrorosa.
 
Posso chorar á toa, que para mim é normal.
Sensibilidade é um dom, não uma fraqueza.
Quem sabe uma falha no meu sistema visual
Tenha prejudicado minha glândula lacrimal,
Por isso eu não aprendi a chorar de tristeza,
 
Por falha profissional ou manifesta intenção
Quem inervou os meus olhos fez uma proeza.
Ao invés de conectá-los com o meu coração,
Fez ligação direta com os neurônios da razão,
Por isso eu não sei mesmo chorar de tristeza.
 
Qualquer emoção me faz chorar de verdade,
Um cachorro perdido, uma criança indefesa,
Pois meu coração é um mar de sensibilidade.

Qualquer sentimento é como uma fatalidade,
Mas nele não há nenhum lugar para tristeza
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Mas sem sofrer largarei tudo que me foi dado
Porque nunca tive na vida algo que fosse meu.
Penso que tudo na vida só me foi emprestado,
Assim, que ninguém chore ao me ver largado,
Quando vier a minha hora e o defunto for eu.

 

 
 
 
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