Céu acinzentado
Céu acinzentado
E o céu está acinzentado
Prelúdio da nefasta obscuridade
O cheiro pútrido amontoa-se em meu nariz
Desesperado, então fujo
Corro sobre torpes ruas, tão íngremes
Nunca estou seguro, falta-me o ar
Coração acelerado, pulsação intensa
E lá ao longe, projétil fatal
Duma ferina arma
Pólvora e sangue
Lama e descrença
Midiática indiferença
Meu sangue, teu sangue, nação sanguinária
Despojos largados ao léu
Abandonados em um lugar qualquer
Sem mais risos, sem mais lágrimas
Sem mais vida
É, o céu está acinzentado
Percebe-se que os deuses então de luto
Ou que o diabo ri seu riso alegremente
Mais uma alma
Menos uma alma
Falas emudecidas
Mãos e movimentos rijos
Mordaças que só a morte traz
E o céu, parece tão pleno
Tão plúmbeo, tão sereno
Tal com o corpo lá desfalecido
Menos uma voz no grito pela vida
E o céu, este permanece cinza!
Eduardo Benetti