A ÚLTIMA GOTA DE ORVALHO

Os prantos estão todos secos,

as lágrimas saem quentes dos olhos,

o calor nos atormenta, nos desestimula,

somos acordados em pleno inferno,

dali somos levados ao mais longe de nós,

estamos nos perdendo, e perdidos

nos deixamos ser levados sem resistência,

nesse lugar não há plantas, água escassa,

tudo cheira a horror, somos ameaçados,

o sol está queimando nossas peles desnudas,

nossos farrapos não nos protegem,

aliás, somos farrapos como eles,

nem somos como eles e nem eles são como nós,

somos restos de vestes putrefatas,

parecemos andarilhos sem rumo certo,

somos forçados a perambular ruidosamente,

nossos suores não caem, escorrem,

lambemos nossos lábios num desespero,

e a salinidade nos deixa ainda mais sedentos,

estamos a pele e osso, vagarosos,

nos conduzimos por um infindável sol

escaldante que nos persegue impiedosamente,

nem mesmo o sereno da noite nos aprouverá,

estamos em nossos últimos momentos de vida,

e antes da última gota de orvalho,

caímos todos mortos, vilipendiados em nossa vergonha...

2.007