sol-pôr
há um sol-pôr em meu coração
tal qual este que agora vejo
a declinar à minha varanda
o resfriar do corpo, das palavras
as ditas e as jamais formadas
por impossibilidade de letras e sílabas
incapaz de compreensão devida
incapaz de fazer-se entender
flutuo entre a incompreensão de tudo
e a sede irreparável de reparar o nada
que constitui a expressão verdadeira?,
pergunto-me, à prima nuance da noite
e toco meu rosto de pedra, os traços
que ocultam as tormentas e furacões
ó, a sina da inexpressão sentida
desconexão e ausências
o virar da noite e do dia
meu coração apaga-se tal o céu
a relançar as estrelas da melancolia
na inexorável noite eterna...