Roupas que guardo
Hoje acordei friamente vestido de pele. A pele sangrava suor e os cabelos caíam sem cor.
Vida repentina bem era a minha.
De preto sempre me vestia e transparente viam-me passar.
Despercebido era eu no meio da almas ceifeiros. Sorriso de cristal.
Ao deserto às vezes ia,talvez fosse para conversar. Mas quem estava lá? Quem estava vivo?
Então, ouvia-se apenas gritos cortados,gemidos de dor que eu guardava.
Amanhã estarei de branco para que possam me ver, finalmente me ouvir. Quem sabe até o relógio pare agora mesmo e não saibamos como estou ou quem sou eu.
Laranja,azul ou roxo. De nada me serve saber a minha cor.
Minha dor é negra e solitária.
Mas,um dia,quem sabe,bem no fundo,alguém veja a luz.