Uma mentira, um segredo...

O tempo que eu hei sonhado

Quantos anos foi de vida!”

Fernando Pessoa

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Nada traduz o que escrevo,

Era um tumor sem relevo,

Era um vazio mui sedento,

Era um trovão que eu ouvia...

E enquanto o iníquo sorria

Vinha à mentira o tormento!

Cri que era a vida chamando,

Na rua o outono abrasando...

Não era a morte, era a vida!

E como uma ave no céu,

Fiz de minha asa teu véu,

Era a verdade reunida!

E quanto aos sonhos d'outrora?

Escárnio, riso, tua obra...

Não era bicho, mas eu!

Foi-se a desculpa golfada,

Foice em meu peito fincada...

Da tua mão que se ergueu!

Imerso em águas segui,

Ao precipício arguí:

"Podes chorar de antemão!"

Co'a depressão a sorver

Litros de amor do meu ser,

Investe já no perdão!

Nada há mais de confiança!

Co'a tua treda aliança?

Adoece a alma, por fim...

Tu eras só um degredo,

Uma mentira, um segredo...

Nunca contado p'ra mim.

* Da antologia Escola Revivalista.

Gabriel Zanon Garcia
Enviado por Gabriel Zanon Garcia em 07/05/2020
Reeditado em 28/08/2022
Código do texto: T6939983
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