Uma mentira, um segredo...
O tempo que eu hei sonhado
Quantos anos foi de vida!”
Fernando Pessoa
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Nada traduz o que escrevo,
Era um tumor sem relevo,
Era um vazio mui sedento,
Era um trovão que eu ouvia...
E enquanto o iníquo sorria
Vinha à mentira o tormento!
Cri que era a vida chamando,
Na rua o outono abrasando...
Não era a morte, era a vida!
E como uma ave no céu,
Fiz de minha asa teu véu,
Era a verdade reunida!
E quanto aos sonhos d'outrora?
Escárnio, riso, tua obra...
Não era bicho, mas eu!
Foi-se a desculpa golfada,
Foice em meu peito fincada...
Da tua mão que se ergueu!
Imerso em águas segui,
Ao precipício arguí:
"Podes chorar de antemão!"
Co'a depressão a sorver
Litros de amor do meu ser,
Investe já no perdão!
Nada há mais de confiança!
Co'a tua treda aliança?
Adoece a alma, por fim...
Tu eras só um degredo,
Uma mentira, um segredo...
Nunca contado p'ra mim.
* Da antologia Escola Revivalista.