Eu não quero estar aqui
Eu não quero estar aqui
Não, eu não escolhi o meu lugar no mundo
Essa droga já existia bem antes de eu nascer
Eu não escolhi a miséria
Talvez a miséria tenha me escolhido como escolheu a tantos
Mas, eu odeio meu lugar no mundo
Essa doença que me devora a alma
Não, eu não escolhi
Viver nessa sociedade injusta e podre
Eu não escolhi existir como existo
Mergulhado nas sombras desssa maldita injustiça
Onde o mal sempre prevalece
E eu não escolhi morrer em vida
Nem odiar toda dor que tive e ainda tenho nesse mármore do inferno chamado vida
Eu não escolhi ser essa ferida aberta
Jorrando pus e sangue
Não, eu não escolhi
E eu estou fraco
Doente e abandonado
Longe de tudo pelo qual lutei pela vida toda
Sozinho
Sem casa
Sem lar
Minha casa é a solidão
E meu lar eterno é a escuridão
Eu não escolhi nada
O destino chamado câncer na alma me levou tudo
Fiquei só: aqui
Um corpo sem alma
Existindo apenas porque a massa cinzenta ainda sobrevive
Mas, eu me sinto tão esgostado
Cansado de lutar
Ficar de um lado para o outro como poeira jogada ao vento
O que os outros chamam de aventura eu chamo de desventura e tortura
A tortura de nunca saber para onde ir
Mas se eu não escolhi esse inferno de vida
Posso enfim escolher dar cabo de tudo que me pesa
E partir para sempre desse hediondo mundo
Sujo e imundo
Fazer a viagem eterna
Aquela da qual nunca se volta
Por que eu não escolhi nada nesse lixo de vida
Tudo foi determinado pelo lugar que eu nasci nessa maldita sociedade
Miserável é o mundo
Maldita é essa exclusão
E marginalização dos fracos e doentes que sofrem
E a mim só resta mandar tudo para o inferno
A hipocrisia de um mundo sem coração
Voar para longe dessa desolação chamada miséria
E abraçar desesperadamente as sombras da morte
Como se nunca tivesse existido
Adormecido para sempre na imensidão da eterna e fria escuridão.