Vóz no papel

Amanhece o dia. E com ele surge aquela necessidade de falar. Falar muito! Falar pra quê?

Falar para que entre na cabeça, para que daqui algumas horas você não esqueça qual era o objetivo do dia. Falar porque parece que vai sufocando, que vai faltando o ar se as palavras não sairem.

Às vezes fica difícil quando você percebe que fala e ninguém te escuta, ninguém concorda, ninguém responde. Na verdade ninguém se importa com as coisas que saem sem parar enquanto você alivia o que te vai no peito e te destrói o piscicológico.

Então você se magoa. E isso dói. Só você sabe o quanto dói. Eles não sabem, a cabeça deles não é como a sua. Eles precisam de silêncio pra organizar seus planos e pensamentos aleatórios, mas você não. Porque você nunca conseguiu se organizar como eles, você nunca se adaptou ao silêncio deles. Você é diferente. Eletricidade pura por dentro e um alto falante por fora.

Enquanto a mente deles está voltada para o pensamento, a sua está voltada para as palavras ditas, cantadas, gritadas... seja como for, você só precisa se livrar delas.

O dia acaba. E você não pôde dizer tudo que precisava porque eles pediram silêncio. Eles até pediram sua opinião, mas nem estavam ouvindo. Você vai pra cama com metade daquilo que já te sufocava quando amanheceu e você sabe que vai acordar com isso e muito mais. Então você se alivia com as lágrimas. Isso ajuda. Mas você sabe que o dia vai amanhecer de novo e que seu fardo vai estar pesado. Então você adormece e sonha. Mas acaba sem ter com quem comentar seu sonho e ele é esquecido. E mais uma vez você carrega aquilo tudo sozinha, mas agora conformada, pois sabe que quando a carga estiver muito pesada, quando você não ter mais força e nem coragem pra sustentar esse peso...você tem a opção solitária e desesperada de descarregar toda sua vóz num papel.