SILÊNCIO
Depois de tanto se descompor,
De tanto servir,
De tanto sentir,
A exigência, a violência,
Do seu opressor.
Depois tantas rasuras,
Clausura, amargura,
Ruptura com a tangência,
De ser conteúdo,
Da voracidade masculina.
Depois do silêncio cascudo,
De tanta existência,
Cinzelada, fragmentada,
Resolveu reagir,
Mudar a desgraçada sina,
Rasgar o verbo, falar tudo!
...
Mas, depois de tanto pranto,
De tanto desencanto,
De tanto tempo calada,
Submissa à autoridade,
De um desequilibrado marido.
Resolveu em vão, a coitada,
Gesticulou, suou, não saiu nada,
Dos seus lábios estremecidos.
Arrasada, voltou para o seu canto,
E no seu silêncio absurdo,
Solitariamente, ela sabia,
O seu olhar, não veria o outro dia.