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11. Máscaras

Não, eu não sei quem eu sou, já mudei mais de cinco vezes pela manhã, são muitas peles para serem vestidas, mas nenhuma delas é a minha de verdade.

Me perdi nos papéis que tive que fazer, nas faces que tive que usar, me perdi no abismo de coisas que eu tive que ser, mas quer nenhuma delas era eu. Desde muito cedo eu sempre tive que ser a filha exemplar e perfeita, como uma dessas bonecas de porcelana, intocável; me ditaram regras, me deram personalidades, me encheram de máscaras que nem eu mesmo sabia quem era; sente; role; gire, de a patinha, crianças boas são obedientes. Mais tarde me deram roupas, me ensinaram a ser alguém, alguém que eu nunca fui em mim, então disseram, adolescentes obedientes se comportam assim. E por fim, me ensinaram quem eu deveria amar; quem eu deveria ser; qual profissão seguir.

A infelicidade caiu pelas minhas costas, tão pesada que eu não pude suportar, as máscaras que eram frágeis, começaram a se quebrar; e quando minha face viu o sol, jamais pode acreditar, eu estava transfigurada, não sabia quem eu era, o que queria, me desconheço.

Sou um borrão de uma estranha em mim mesma; não sei quem eu sou.

Com amor, um fantoche qualquer.

Natália Reis de Assis
Enviado por Natália Reis de Assis em 12/04/2020
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