LEVE A DOR
À dor, não cabe prisão.
Antes, há que soltá-la, em uivos de cão
ou canto, em levas,
pra longe do coração.
Há que confrontá-la com a beleza das ruas,
com os olhos do moço que passa,
com a primavera rolando pela calçada
em perfumada conversa com as pedras.
À dor, abra as portas
e, com seu mais lindo batom e as pernas nuas,
leve-a em trottoir pelas ruas
sempre um passo além... da dor.
Assim, ao erguer o olhar,
por trás de tão linda boca,
ela não reconhecerá
a angústia que habitava,
a cordial morada, antes sua.
E irá se perdendo... a dor.
A dor irá se perdendo
nas ruas por onde for,
você e suas pernas nuas.
(para duas ou três poetas
que trancaram a dor,
entre elas, eu).