SONIDO NOTURNO ( um poema em tempos de pandemia)

Oh cantata noturna,

Tu vieste em hora importuna.

Trouxeste brado das longínquas terras.

Um cântico estarrecível,

Um sonido emudecído...

lírico que tua voz enterras.

Estávamos a enamorar melodias,

Mesmo com claves tardias.

Mas nossos tímpanos eclodiram no salutar.

Ficamos assobiando,

Insípidos...

E sem ar!!!

Colocaste um freio em nossas bocas,

E assim, não pudemos cantar.

Arrebataste com falsete

Nossos sonhos no porvir,

Nossos sorrisos em "quest",

O anseio de ir e vir.

Agora temo que não mais possamos ouvir...

Um concerto angelical,

Ou mesmo samba eclodir.

Apenas som de abutres...

Marcha fúnebre a seguir.

Mas olha...Que ouço???

Uma orquestra cintilante na aurora...

Gaivotas radiando noutrora...

Desprendendo-se de sonidos ...

que de tantas vozes,

Mal percebe um sussuro:

Teu urro, tornar-se-á veludo.

Felipêncio Júnior
Enviado por Felipêncio Júnior em 23/03/2020
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