O Poema da nuvem.

A chuva ensaiou

Flutuante

Eu abri minhas janelas e cortinas

Acendi meus abajures

e uma vela para agradecer

Convenci flores ausentes a ficar

Recolhi correntes

Pus meus dentes num sorriso

Ensaiei minha melhor risada

Pois a chuva é quase nada

Nada, quando ela chove

Deitei vinho à taça

Ele não veio

Vinha a chuva que passou

Porque toda chuva um dia passa

E ela passou

Infértil...meio indiferente

Sem sorriso e folha nova

Eu chorei

Pois o tempo ensina e prova

Compreende quem quer

Aprender não é preciso

A lágrima é.

Terra e chuva são dois

Pra depois serem uma coisa só

Pois a terra inválida, invalidada

Compreende a dor de ver-se abandonada

Sem laços, desatados nós

Mas depois que um rio flutuante

Impávido e ausente

Num dia qualquer

Passar pelo espaço infinito

Vazio e bonito e distante

Ali, bem diante dos olhos

E logo após, num mero instante

Dar adeus, partir e não chover.

Edson Ricardo Paiva.