Poema para um novo despertar
Manto de estrelas. Dorme menina.
Flutua e sonha. Entre os astros se esconde.
Mar em fúria. Se pergunto não responde.
Debate-se no silencio em calmaria.
Num oceano de lágrimas soluça uma voz.
Onda vai, onda vem, desce o véu da noite.
No universo da fria escuridão, algoz,
Rebate em minh’alma o verdugo açoite.
Solidão insensata, campo de batalha.
Se dissolva este limbo que nos oprime.
Que caia dentre nós esta mortalha,
Expondo a face horrenda deste crime.
Procuro em vão, tento encontros,
Com os elos que se romperam um dia,
Levando para uma dimensão sombria,
Os registros de meus desencontros.
Lamento um amor que foi abortado,
Por desígnios de um deus tirano,
Que arremessou fortuito dardo,
Contra este coração de profano.
Qual fora um cupido arqueiro,
Privou-me de sonhos e quimeras,
Cravando no Portal das Eras,
Uma flecha em brasas, certeira.
Partiu em raio de luz, nave do infinito,
Numa eterna viagem sem volta,
Deixando na terra um coração aflito,
Em lamentos de raiva e revolta.
Em qual estrela se escondes minha amiga?
Porque não respondes a este poeta trovador?
O tempo se arrasta, a hora intriga.
Teu silencio me acalenta a dor.
Pelas barreiras do tempo me debato em vão,
Tento arduamente numa missão demente,
Resgatar as folhas mortas de uma paixão,
Que sucumbiu um dia dragicamente.
Minha amada flutua por entre as ruínas,
Desta dimensão paralela, zona fantasma,
Presa constante desta teia de ectoplasma,
Num circulo vicioso de cismas eternas.
Um grito no silencio se abortou, estático,
Impedindo a expressão um ardor infindo,
E uma sede tórrida me colheu sorrindo.
Meu amor, (cumulo da infâmia) se congelou, apático.