Hipócrita Divino XIII: "Sozinho" - Disse o Mestre.

Deus, eis Teu filho novamente com a alma destruída,

Mesmo que eu fale que é uma viagem só de ida,

Volto com a atmosfera poluída,

Minha cabeça dói pelas correntes da Ira.

Dizei que Teu conforto é o único que importa,

Mas não o único que eu quero,

Me dê um escudo que me comporta,

Afia minha espada com mui esmero.

Sê sincero,

Até quando serei expectativa,

Mantendo minha paz cativa,

Deixa meu ódio na ativa.

Todo dia o mesmo ciclo flamejante,

O escorpião num círculo carmim,

Não vejo saída dessa situação fulminante,

Cabe injetar veneno em mim.

Mas quando diz que nada que provém,

Alguém deveria saber,

Não imagina o quanto além,

Dói por ninguém lhe conhecer.

Conhecido no profissional,

Meio conhecido no pessoal,

Mas o íntimo fora deixado de lado,

Desconhecido até pelo povo amado.

Já faz muito tempo que dura esse vazio interior,

Pois ser amado é eterno labor,

Até mesmo quando não se faz quando necessito,

É meu eterno sádico rito.

De modo curto e grosso,

Estou decepcionado,

Pois que me destrua até o osso,

Só para ser mais sensato.

Em outros momentos foram ditos pelo meu mestre,

“Sozinho será, independente de tuas conquistas”,

E a vida nesse semestre,

Já estou novamente com toxica silvestre.

Cada dia que passa a estátua se reconstitui,

O corvo abaixo do mar borbulha,

Acabe comigo, me restitui,

Me mergulha.

Criaste uma mágoa a minha saliva,

Por mais doce e positiva,

Chegará um momento por ego,

Engolir-me-ei a seco.

A mesma mão que é colocada na cabeça,

É aquela que irá te decepcionar,

Pois a dor é algo que nunca se esqueça,

Com isso só irei me afastar.

Meu choro é verdadeiro,

Minhas palavras da alma,

Até quando serei sozinho nesse desfiladeiro?

Até onde durará a minha calma?

Suplico a ti, Senhor,

Faça-me filho do amor,

Entretanto sobrevindo esse odor,

Só cair-me-ei em dessabor.

Outrora que necessitei de alguma assistência,

Viste quem teve ciência,

Os compadecidos de empatia,

Que de tanta ironia.

Estou pronto para sofrer calado,

Ser rasgado em silêncio,

Antes sozinho,

Que mal amado.

Eu já sabia qual seria o resultado,

Não seria acolhido e retratado,

Fui pego no colo como um vaso,

Jogado ao chão para ser novamente quebrado.

Nem sequer colocou os joelhos nos cacos para pegar,

Tive eu mesmo que me levantar,

Procurar peça por peça no seu lugar,

Perdi-me em egoísmo para me encontrar.

Pior seria,

Se pegasse um pedaço e se cortasse,

Como desculpas eu pediria?

Pode deixar, dou conta desse impasse.

Na madrugada turbulenta,

Andei de forma lenta,

Procurei meu reflexo no vidro embaçado,

Meu olho havia mudado.

O castanho estava pálido,

Senti o frio da solidão,

O odor do meu próprio mal hálito,

De toda minha podridão.

Adianta mudar,

Querer ser melhor,

Restituído em amar,

Mas me tornar pior?

O que eu sinto é igual antigamente,

Quebrei-me espiritualmente,

Voltei ao tom vermelho,

As vozes gritam na minha mente.

Fui desprezado,

Eu sabia que aconteceria,

Sou um desgraçado,

Deixado sozinho enquanto dormiria.

Não é todo dia que estamos completos,

Pois tenho pouco do que quero,

E somente em dias seletos,

Nasci para lado a lado,

Acabei servo.

Mas será que alguém ainda se importa com meu eu?

Será que alguém quer minha felicidade?

Quando falei que meu passado morreu,

Não sei o que sucedeu,

Foi de verdade.

Cá estou no meu castelo,

Sem elo,

Singelo,

Mais frio que o gelo.

Se não fosse pelo Messias,

Que aguenta minhas sinas,

Segurando um cristalzinho,

Estou como deveria sempre estar,

Sozinho.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 09/02/2020
Código do texto: T6861876
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.