CHEGA UM TEMPO
Chega um tempo,
Em que não importa se amarrotou a camisa,
Ou se pisaram no bico do meu sapato.
Não incomoda tanto,
O barulho do som do carro do vizinho,
Ou a dificuldade em remover,
A gordura das bacias de plástico.
Chega uma hora,
Em que você para de correr tanto,
E decide contar quantas folhas tem tal árvore,
A árvore que os cães mijam.
Num dado momento da vida,
Você deixa o celular no silencioso,
E se ligarem,
Só atende depois do terceiro toque da segunda ligação,
Pois se for urgente, vai retornar.
Chega um tempo,
Em que a ruga do rosto não é tão feia,
A mesma janta, o mesmo almoço,
Tem um gosto diferente.
E a opinião dos outros não tira mais o sono.
Nem a segunda conta atrasada.
Nem a mancha que ficou na roupa.
Chega o dia,
Em que não se tem mais pressa em ler aquele livro,
Só pra mostrar que leu.
Ou assistir todos os filmes,
E maratonar todas as séries.
O momento chega,
Em que você pode olhar nos olhos,
Pede perdão com mais facilidade,
Se irrita com menos frequência,
E faz das críticas negativas algo construtivo.
E ri dos próprios erros.
Aaahh. O dia vem,
Em que não se tem mais vergonha em dizer:
"Me abraça!"
Ou que os resmungos da sua família não passam de poesia mal interpretada.
Ou oportunidade pra treinar a caridade.
Chega o tempo,
Em que tudo isso acontece.
Quando a ficha cai,
Então chega o tempo,
Em que se descobre,
Que não há mais tempo.