Tinta, papel e lágrima
Pobre e infeliz àquele que, da vida, só recorda os medos e desgraças. Existência vã e insignificante daquele que, quando só, numa sala repleta de livros arcaicos lembra suas dores e derrotas... Eis o que faço, agora, incorrigível e inconsequente. Não digo o que sinto, não sinto o que digo ou mesmo digo o que não sinto. Em toda parte confesso ser volúvel, inconsciente e incapaz (Exceto na dor da lembrança) de segurar novamente a tua mão, que agora não existe mais. Propenso a ruína... Nunca havia sentido no âmago do meu ser uma agonia tão avassaladora quanto agora sinto em meu espírito amargurado, pois em mim há angústia e miséria extrema. Onde mórbidos são meus dias e ermas as noites, em que vago insone num devaneio astral, aprisionado num cárcere mental que faz do meu tormento uma agonia perpétua.
Hoje não sei quem sou, e ao mesmo tempo sofro viajando em lembranças que nunca realmente vivi de fato, no entanto sinto, em espírito, as gigantesas proporções deste fato que neste momento me é inexprimível, onde sou absolutamente incapaz de descrever... Sinto frio e desespero por existir em mim este sentimento tão mórbido, revelando-me, por parte, os mais confusos mistérios da internexão do mundo-real e da Hiper-realidade, enquanto ainda sinto, para meu espanto e ruína, meu coração em fase de decadência desfalecer lentamente e uma completa putrefação de meu espírito fragmentado.
Vejo entre mim e a sensatez uma barreira intransponível, dando à felicidade que eu não tenho um tom esmagador de desespero, que agora já atinge o apogeu da inclemência deste onipotente pesar, onde ouço meu coração a suplicar em meio a uma absoluta degradação a cada impulso involuntário. Enquanto escrevo à luz de uma melancólica vela, numa torre escura, em um quarto frio e miserável. Eis-me, infeliz e agônico, com uma doença irreparável persuadindo-me à ruína que lentamente me guia a uma esmagadora insuficiência.
Sinto ódio, não sei de quê...
Sinto vontade de chorar, e em minh’alma crucificar... Num delírio sobrenatural, navegando a esmo num trajeto imutável que agora sigo Prognosticando o pior irreparável, com um presságio de tragédia em meu espírito...
Já fui um dia, dotado de beleza e encanto; hoje desejo arduamente um minuto de paz-de-espírito, sentindo-me como um cemitério, privado de vida, a não ser este desconforto pulsante, transcendental e inesgotável que se alimenta de minha tristeza, visível em meu semblante.
Queria eu, expressar todo o meu suplício, angústia e sofrimento imensuravelmente grotescos numa só palavra. Enquanto não consigo, escrevo, enquanto a letargia do sono eterno me corroe a vida.
Descrente da vida, que agora para mim é insuportável... Sem saber o que fazer de mim, com essa vida sem ti, sem saber o que sou, a não ser de agora como estou: Descrente, solitário e infeliz. Onde viver já não me conforta mais.