A LUA QUE EU VEJO NÃO É A MESMA QUE VOCÊ VÊ

A lua está cheia, as ruas também, as veias, o sangue que circula sem firula,

Quem se intitula abastado, mas, pouco faz para ir ao encontro da própria fé,

Posso contar dezenas de estrelas e me persuadir a dizer que está tudo bem,

Posso ir de zero a cem em poucos segundos, apertar a mão, arrepender-me.

Ninguém me escuta nem por um minuto, nem um amigo, uma pessoa sequer,

Sou eu e este abajur no céu, este pote de mel e algumas torradas já murchas,

Algumas duchas que tomei durante o dia, lavei o rosto na pia seguidas vezes

Sem conseguir sufocar o calor, sem dissimular o dissabor de ainda estar triste

Como quem desiste de lutar definitivamente, calmamente se deita e rende-se.

Sinto a euforia no ar, pessoas encantadas, a vontade instantânea de publicar,

Sempre fui introspectivo, receptivo para ajudar, por enxergar nos outros, a dor

De quem não come a uma semana, que não dorme, não respira pelas narinas,

Ouve os diálogos nas esquinas e não se aquieta, espera por uma noite de paz.

Já amassei o travesseiro, incorporei o bombeiro, quis me tirar de um incêndio,

Nem mesmo um avião seria capaz do resgate, levar-me como engate e cuidar

Como se eu tivesse inalado gás ou fumaça e não bebesse leite, ouvisse: "deite,

Aceite ajuda, Deus acuda, fique comigo, por favor; alguém morreu no caminho”.

Sérgio Sousa
Enviado por Sérgio Sousa em 03/02/2020
Reeditado em 02/04/2020
Código do texto: T6857093
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