A LUA QUE EU VEJO NÃO É A MESMA QUE VOCÊ VÊ
A lua está cheia, as ruas também, as veias, o sangue que circula sem firula,
Quem se intitula abastado, mas, pouco faz para ir ao encontro da própria fé,
Posso contar dezenas de estrelas e me persuadir a dizer que está tudo bem,
Posso ir de zero a cem em poucos segundos, apertar a mão, arrepender-me.
Ninguém me escuta nem por um minuto, nem um amigo, uma pessoa sequer,
Sou eu e este abajur no céu, este pote de mel e algumas torradas já murchas,
Algumas duchas que tomei durante o dia, lavei o rosto na pia seguidas vezes
Sem conseguir sufocar o calor, sem dissimular o dissabor de ainda estar triste
Como quem desiste de lutar definitivamente, calmamente se deita e rende-se.
Sinto a euforia no ar, pessoas encantadas, a vontade instantânea de publicar,
Sempre fui introspectivo, receptivo para ajudar, por enxergar nos outros, a dor
De quem não come a uma semana, que não dorme, não respira pelas narinas,
Ouve os diálogos nas esquinas e não se aquieta, espera por uma noite de paz.
Já amassei o travesseiro, incorporei o bombeiro, quis me tirar de um incêndio,
Nem mesmo um avião seria capaz do resgate, levar-me como engate e cuidar
Como se eu tivesse inalado gás ou fumaça e não bebesse leite, ouvisse: "deite,
Aceite ajuda, Deus acuda, fique comigo, por favor; alguém morreu no caminho”.