Cidade de Lápides

Semeia flores pelo caminho,

Ensina os pássaros a cantar.

Acende o sol principiando a aurora,

Recolhe as estrelas uma a uma

E as guarde no brilho de teus cabelos negros.

Teu olhar é a luz do dia...

Estende a mão e o rio fluirá;

Cruza os braços sobre o peito

E a brisa correrá por toda natureza.

O cheiro de terra molhada,

O solo fecundo que alimentará o mundo,

Tudo são perfumes que vêm de ti,

Que procuram por ti.

O vento não te acha

E a tempestade procura um refúgio no canto dos teus olhos...

Esses olhos nos quais tudo se perde;

Onde o sempre traja o nunca;

E a liberdade tem as mãos atadas eternamente.

Olha ao teu redor:

O tempo suspenso como chuva parada no ar;

A única flor do jardim;

A vida estremecendo em frágeis cabedais.

O arco-íris desbota no encanto do teu sorriso

E o teu riso é um segredo desconhecido até por Deus.

Um desejo repousa para sempre na pedra do sacrifício,

Manchado com o baton das insatisfações,

Molhado pelas lágrimas que fazem rir...

Espalha tuas joias sobre a cama

Porque, na estrada que leva ao tesouro,

A única riqueza são teus passos,

E teus pés são como asas que já nasceram sabendo voar.

Pára todos os corações em torno de ti

A fim de que se ouça apenas

As melodiosas notas de teu seio,

Prisão sem muros, leito de espinhos,

Tormento sem fim.

Veste o traje do universo,

Vivo como a Criação,

Perfeito como tua existência,

Caótico como o sonho que te trouxe à vida...

Pois tudo que está disposto no mundo

Reflete a tua alegria

E traduz a mágoa de sombras sem essência,

Sem forma,

Mas que ferem de morte.

Cada minuto traz a contagem de sonhos que se perdem,

De fúria que se acumula,

Mas também de momentos que te são doces,

E amargam desde a luz do sol mais intensa

Até a chuva inútil de um verão perdido.

Na ave que cruza o céu,

Vê teus desejos como flecha rasgando os ares sem obstáculo.

Na abelha tocando suavemente a flor,

Contempla a colossal energia que te move

Destroçando nãos e impossíveis...

Naquele que passa com olhos que não viram a noite em sono que valha a pena acordar,

Sequer dispensa um olhar ou pensamento de galhofa.

Lembra de teu Deus...

Leva a turba contigo no teu rasto

Num festejo sem fim de zombaria dos que padecem,

E deixa em pedaços pela estrada

Pedaços de batidas de um coração de um inteiro amor

Que não encontrará jamais sua metade.

Lester Cooper
Enviado por Lester Cooper em 26/01/2020
Reeditado em 07/04/2023
Código do texto: T6850851
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