Ciência decadente de um escritor
As rosas vermelhas exalam fétidas ao meu olfato,
O riacho que escoa e despenca da montanha me ensurdece,
O pássaro que voa sob o céu branco me enfurece
E o gato, companheiro da minha casa, aos meus olhos não passa de um rato.
Sinto tédio em me lembrar dos cabelos esvoaçantes ao vento
Da mulher que jamais amei,
Da flor que jamais toquei,
Do beijo que jamais provei.
Não sinto mais prazer em terminar o labor
Que me surge necessário para uma boa recompensa,
Não me amedronta mais a idéia de ser um ator,
Fingindo gostar de um mundo de aparência.
Não estou desesperado,
Tampouco resignado,
É uma filosofia de vida,
É uma busca concentrada de um sucesso que não vinga.
É uma maturidade que me guia o espírito
Pelos estreitos caminhos e curvas com que me deparo,
Este comportamento que me resguarda
E me impinge num triunfo que me aguarda.
Mas uma chama ainda arde dentro de mim
E me faz criar alucinado
Com o tempo que dispersa meu pensamento
Sempre voltado para a conquista.
A conquista não é de terras inalcançadas
Nem de conhecimento inassimilável,
Mas de uma ciência intangível,
Necessária para o homem moderno subir as escadas.
As escadas escorregadias de uma vida e um dilema.
A primeira anima o meu corpo
E o segundo divide minha alma.
Sou um escritor e cientista ou escritor sem escopo.
Ulisses de Maio