Elegia da Mágoa Íntima
Eu sou um criminoso, do tipo mais vil,
E só eu sei desse pecado meu.
Não existiu nesse ato, nada de pueril.
Uma atrocidade! Te digo, que nunca se viu.
Não existe padre ou psicólogo a quem eu confesse,
Assim como pai ou mãe que perdoaria,
Tamanho o pecado, tamanha a ousadia
D'um mal hediondo como foi esse!
Imperdoável eu diria, imperdoável!
Na face da terra ainda há de haver
Profanação que seja ainda mais execrável!
Eu sou pior que Caim, que Nero a dizer,
Pior ainda que Himmel e Goebbels,
A história da humanidade ainda há de escrever
Pecados piores que os meus!
Se, acima de nós, existe um Deus que é todo amor,
Uma Força, a qual devemos obediência e temor,
Ele nunca me perdoaria! Negaria seu amor paterno!
E se, abaixo do solo, n'um longínquo inferno
Existe o crápula últmo, Satã Trismegistus,
Ele me carregaria para o último andar de sua chama,
E me castigaria com horrores nunca antes vistos!
Ai de mim, ai de mim! Que alma perdida!
Cometedor de um pecado que castiga a vida!
Eu tenho vergonha disso, infinita vergonha!
Queria mil vezes enfim, que minha vítima me perdoasse,
Ou que a serpente do Éden em mim cravasse sua peçonha!
Oh! Não há uma só noite em que eu não pense no que fiz,
E desde então não houve um só sono de calmaria,
Esse pecado, esse deslize, tornou minha alma infeliz,
E minha vida em uma tremenda heresia!
Eu não consigo dizer o que é, me dói, me pesa!
É do tipo de coisa que ninguém nunca confessa!
E assim o será! Ó mágoa infinita!
Sou como Atlas, no entanto, em meu pesar
Carrego as dores de algo que só eu sei do existir,
É o meu fardo, o meu peso que sozinho vou carregar
Até que minha breve vida não possa mais resistir!
É meu fardo, é meu peso, é a minha deficiência!
E assim o será! Ó mágoa infinita!
E ei de carregá-la por toda a minha existência!