Constituição
Suponho dizer que as coisas concretas não me inspiram.
Como as pessoas andando sempre iguais
O quanto são mais cruéis do que os animais
Nada me inspira.
O cantar dos pássaros
A alvorada de muitos deles ao amanhecer
Absolutamente nada disso faz eu escrever
As palavras surgem
Mas fogem!
Estão cansadas dessa margem branca
Estão exaustas de serem só estanques
Revoltadas elas gritam, borbulham e fogem.
Por que afinal nada me inspira?
O beijo no pescoço
O abraço gostoso
O calor dos lábios amados
O fervor dos segredos guardados
Nada, instintivamente nada me inspira!
Buk, disse que nunca se deve escrever por obrigação
E adotei essa lição.
Depois que fiquei sem inspiração
Subverti-me as dores presas no coração.
as calcifiquei nas minhas vértebras
as silenciei nos sinais não interpretados
Tudo virou atos banais
Sem inspiração alguma
Fiquei presa a uma personagem sem poesia nenhuma.