Quando as lágrimas choram.
Sou as migalhas jogadas aos pombos.
Sou a tristeza dos sonhos mortos.
Sou o fruto da mais vil injustiça.
Me roubaram o direito de viver.
A mim só sobrou a dor do abandono e do vazio.
Falam de esperança.
A esperança é um monstro de olhos vermelhos.
Para uns ela brilha como um dia ensolarado de praia.
Mas para mim e para muitos, ela nunca chega a brilhar.
E eu?
Eu sou apenas a poeira trazida pelo vento.
Um grão de areia frente a um oceano de lágrimas.
E enquanto o sol brilha para meus irmãos.
Vou morrendo e secando num chão frio qualquer.
Não existe dor maior que a do abandono e da injustiça.
Morrer todo dia um pouco.
Doente e sozinho.
Minhas lágrimas choram.
Sim, minhas lágrimas choram.
Elas choram tanto, mas tanto que às vezes chegam a secar.
E eu estou só, irmão.
Sozinho na imensidão da escuridão.
Tento gritar, mas minha voz não sai.
E em meio ao pavor da dor, eis que minhas lágrimas sangram.
Minha alma pede desesperadamente por socorro, mas ninguém ouve e se ouve, finge que não ouviu.
E eu sigo morrendo.
Cada dia um pouquinho.
Como se a escuridão fosse meu destino.
E as lágrimas minha sina.
Já não acredito em mais nada e espero desesperadamente pelo fim.