ENQUANTO VOCÊ DORMIA
Acariciei seus pelos,
Enchi seu rosto de beijos,
Seu ouvido de “eu-te-amos”,
Enquanto você dormia.
Mantive o meu braço imóvel
(O que apoiava seu corpo)
Pra garantir que sonhasses
Enquanto você dormia.
Velei centenas de vezes
Seu sono leve e falante;
Enamorado a mirava,
Enquanto você dormia.
Meus olhos sequer piscavam.
Por vezes quis despertar-te
Com abraços apertados
Enquanto você dormia.
Fiz planos de amor perpétuo,
Ergui castelos e torres,
Casei contigo mil vezes
Enquanto você dormia.
(…)
Enfim, estando acordada,
Depois de mais uma noite
Em que me fiz sentinela,
Enquanto você dormia,
Talvez por não ter sentido
Minhas noturnas carícias
E nem sequer ter me ouvido
Enquanto você dormia,
Saiu de vez do meu lado,
Alegando desacato,
Desprezando meu apreço
Em nome de uma "alforria",
Sem ter válido argumento;
Sem que eu tivesse ferido,
De fato, o seu amor próprio
Enquanto você saía…
E agora vivo calado;
As noites inda são claras,
Mas posso mover o braço
Como antes não fazia:
Não tenho a quem bajular,
Nem a quem cariciar.
Sem sonos para velar,
Minha noitada é vazia.
Você deve estar dormindo,
Balbuciando palavras
Incompreensíveis e vagas.
E eu, na minha agonia,
Sigo acordado e pensante,
Sentindo essa dor no peito
Por tudo que foi perfeito
Enquanto você dormia.