MÃE
Suas mãos pintadas
Hoje trêmulas
Servindo o prato
De massa fresca,
O doce frutado
Tal onça do cerrado
Ela gritava agudo
Punindo as filhas
_Vocês devem ser bonitas!
Para bem casar
Sentem certo, comam direito
Não fale feio.
Te odeio!
Ela ouviu.
Sentiu-se desamada
Sentiu que não mais vivia
Ouviu palavras frias
Que estava louca
Que morreria só.
Eu sei que tem medo
Eu sei que ama,
De um jeito errado.
Ama no bolo feito
Ama na ave-maria à noite
Mas o tempo é vento em açoite
Que não cura, mas abre a ferida
Que nunca cicatriza
Queria dar-te um abraço
Queria que fosse a mãe doce
Tal a bananada no tacho
Queria que seus olhos verdes
Que se erguem nervosos
Me olhassem com ternura
E não fossem censura
A me castigar
Mãe, minha mitocôndria existencial
Venha me ninar.