Nós
A inexprimível turbulência provocada pelas emoções
que se confrontam em mim
Me deixam a nada poder,
a nada dizer...
Tais belicosas sensações destroçam, rasgam, mutilam.
Não me resta mais garganta,
muito menos voz.
Sozinho, mudo, mutilado.
Olho ao redor e, de repente, vejo
uma forma convidativa que me rouba a atenção.
Minha essência refulge.
Sem perceber,
já vislumbrava meus dedos,
Lançados à tórrida
Orgia das Cordas,
se entrelaçando e se contorcendo,
Fazendo-se Nós...
Os dedos beijam as cordas, e estas respondem;
suas vibrações ressoam como gemidos
provocados por Orgasmos Supersônicos.
Sinto a turbulência cessar,
E, novamente, posso falar.
Mas meus pensamentos viajam em movimentos catatônicos, que
contorcem meus nervos e atravessam a ponte que vai de Mim a Mim.
Perco-me.
Daí percebo que não sou mais Eu.
Nego-me.
Eu não sou mais Eu.
Indago: quem sou Eu?
Queria Eu ser diferente de Mim...
Mas, se assim o fosse, quem seria Eu?
Não seria mais Eu,
Seria outro Eu,
diferente de Mim...
Somos Nós.