Sem Título 5

Eu queria ter a fé dos ateus

Que acreditam que não há Deus

Que além da terra não há céu

Que não há nada por detrás do véu

Das dimensões e dos não-lugares

Infelizmente, não tenho tanta fé

E minha força, pequena como é,

Nada tem de significativa

É apenas uma virtude falida

Um sorteio de azares

Eu acredito no Universo e na morte

Não nas pessoas, ou na maldita sorte

Quero cumprir a promessa do perigo

Ser o suspiro do vencido

Que não atrai olhares

Há uma última palavra

Que na pele se me encrava:

Sou a semente mal vivida

A pele úmida da ferida

Em salgados tristes mares