Não posso mais dormir

Aos caídos,

Aos falecidos,

Aos unidos,

Aos incisivos.

Nessa madrugada quente

Fui logo eu rejeitado. Pela cama,

Pelo drama, por tudo aquilo que me faz pensar,

A que ponto meu limite ei de chegar.

Coloquei-me nu e desfocado como peça de foto,

Noto que, ao longo de uma noite fui perceber,

Quão vale minhas decisões e razões,

Emoções que deixei passar ou,

Infelizmente,

Deixarei de perceber.

Não existe valor algum no edredom,

Nem na borra de batom,

Não há, vazio suficiente para

Em momento mais oportuno,

Nesse dia gatuno,

Que preencha com o tanto que sinto,

Sinto muito mas,

Eu protesto,

Meritíssimo.

Ato finíssimo que,

Numa noite fez ferver,

Ardor como nunca quis,

Mas fiz,

De forma livre e espontânea,

Minha coletânea de quanto o tempo,

Abstrato e assereno,

As desventuras que não terei,

Não poderei,

Tocar-lhe o íntimo da nuvem,

Que nu não vem.

Meus dias de cão se foram,

E que minhas feridas doam,

Pois não sou carta de tarô muito menos,

Enforcado. Que se tornou símbolo,

Do sentimento limitado.

Meu protesto é em forma de silencio,

Pois ansiava porventura adentrar nas tuas ondas,

Não colidir contra a maré,

Fato é. A despedida com roxidão em meu peito,

Foi como o adeus perfeito,

De nova área que nasceu,

Cresceu. Amor, dor, aconteceu.

Tendo desejo qual o problema de pregar,

Cravar tua bocarra na minha pele,

De forte ou de leve,

Gravar tua territorialidade,

Por toda a eternidade.

De minha mocidade,

Ao completo convencimento,

Que preciso de tua benignidade,

Do teu ensinamento.

Não poderei eu mais,

Encostar por perversidade,

Nem como tais,

Me prendeu a realidade.

Como fotografia de um momento aqui estou,

Pintado de tinta fresca. Me deixou de lado,

Importando com o que aconteça, fez, unilateral,

Esse sentimento de não estarmos preparados para tal.

Culpa minha és de que sentiu avulsa?

Fiz algo que serviu de carapuça?

Revivi algum sentimento limitador,

Pois limita-me como aquele de teu furor.

Sozinho é, toda noite verdadeira,

E na verdade, digo-vos que sozinho é à beira.

Encarando diariamente o abismo que refuta,

O carnívoro que vive de fruta.

Mais um dia quente,

Entre todos os mais ardentes,

Digo de finados e prefiro o assunto cortar,

Para que não me faça a poesia tardar.

Estou sem sono e digo que, além de toda a vida,

Toda a sua ida. Agradeço, de coração,

A unção, a criação, amizade, açafrão,

O tempero da minha vida que é, amarga,

Que me tarda, sentimento e gosto,

Estampado no meu rosto.

E não me agrada a rotina,

Mas preso estou de buscar,

De solucionar, toda e qualquer armadilha,

Pois sou cabeça,

De alma andarilha,

Limitada e presa.

Sê lobo como eu,

Quem te rosna e mordeu,

Não consigo neste pelo negro,

De forma abruta, viver o aconchego,

Nesta pacata forma de sobreviver,

De viver e não viver,

Sem deixar acontecer.

Não fui feito para cabresto,

Nem preso a um cesto,

Não fui primeiro muito menos sexto,

Mas neste ano bissexto,

Ei de soprar novas tempestades.

Que me tirem as coleiras das verdades. Que não quis ouvir,

Que deixei ruir,

Que me fez sorrir,

E parir,

Gerar toda essa discordância,

Como jardim de rosas em abundância.

Pois de tua chuva nasci trovador,

Traz luz a escuridão,

Traz som ao silenciador,

Treme a terra e todo chão,

Se não me mate por favor.

Venci teu verão,

Mas o pior é o inverno,

Pois não acredito em calor,

Sei que é muito frio o inferno.

Chama pálida igual a mortandade,

Destaque este da irmandade,

Toda e qualquer alma que um veio em mim acreditar,

Quão feliz podia ser esse abruto mortal.

Sinto-me como os dias do prédio abandonado,

De frio e inacabado,

Vivendo da chama de água e óleo,

Encharcado de petróleo,

Como na noite três do mês seis,

O dia que o servo pergunta aos reis,

Quem de vocês,

É meu destinado freguês.

Nessa dança diferente,

Que me faz alegre e contente,

Falta somente tua peça,

Que despedaça toda a peça,

Nesta fresta põe teu dedo,

E me quebra por inteiro.

Posso me fazer egoísta,

Sinistro e minimalista,

Por querer e ensejar,

Desejar o teu âmago para mim,

Como um toque de marfim,

Sê teu anjo ou serafim.

Porém de prova a todos os finados,

Coloco nesses desejos inacabados,

O fim de tudo que quero,

Que espero,

Num futuro próximo que está longe,

Como um monge,

A paciência necessária para aderir.

Sorrir sem precisar suar,

Ficar fadigado sem misturar,

Suor e saliva,

Desta terra nativa,

Os costumes conservadores,

Conserva as dores.

É somente uma reclamação de um insatisfeito,

Forasteiro este, das tuas densidades de incertezas,

A prantos campestres,

Pousa em asas em poeiras terrestres,

Todo aquele meu ar vai a chão,

Terminando em voar,

No andar.

Logo eu homem nu,

D’alma e rosto,

Me prostro,

Me frustro,

Culpo a mim.

Tenho certeza que em algum momento, fiz gerar incerteza,

A mesma que aconteceu este reboliço,

Tentei plantar fé, acabei construindo um obelisco,

Pontiagudo que me quebra,

Me estilhacei antes da queda.

Sou só menino incorrespondido,

Que não é entendido,

Meu querer faz parte de um estrangulamento,

Para prevalecer um juramento,

Não vou mais reclamar a minha carência,

Pois isso gera dependência,

Prometi que sempre iria saudar tua liberdade,

Por mais que me doa de verdade,

Não ser escolhido,

Não poder,

Ser seu motivo de arder.

Vem em mim ó destino,

Faz de mim o teu hino,

Acontece o que em realidade já penso,

Ponte de apenso,

Que de verdade,

Em toda a minha saudade,

Não me faz fraude,

Pois queria estar cheirando os cobertores,

Não contente com uma só noite,

Mas quanto achei que me queria,

Foi-te.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 05/11/2019
Código do texto: T6787445
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