Nuvens de Agosto
Nuvens,
por que nunca me falam?
Fico aqui sempre a olhá-las.
Porém,
todas me calam!
Nuvens que sabem o que penso;
desta vontade guardada,
tão sufocada!
Confissões em silêncio,
gotas caindo...
Não resistindo.
Nuvens cinza,
esponjas brancas.
Veem lá de cima.
Se introjetam em mim,
absolvem a minha dor.
Nuvens,
vos peço.
Por favor, não mintam!
Porque penso,
sinto!
Nuvens que me fazem sorrir;
chuvas que me levam a chorar.
Das tardes que se põem a cair...
Chuvas, daí-me um lenço.
Por que não se cansam?
O tempo,
sempre o tempo!
Meus sentimentos;
juro que não os entendo?
É-me confuso,
profundo...
Às vezes, vejo-me lá fora.
Sou as próprias nuvens.
Noutras, aqui dentro;
águas assim me molham.
Nuvens que não passam;
transpassam, encharcam-me.
No céu busco respostas.
Por que me embaçam?
Confessem-se!
Chuvas, trasbordem!
Encham a minha taça,
solvam do meu cálice.
Molhem-se!
Embriaguem-se.
Autor:
Francisco de Assis Dorneles