DESFECHO
havia
um silêncio sepulcral
naquelas pálpebras caídas
saídas das sombras cinzas
que os olhos num lamento azul
mareavam
um silêncio de corpo velado
dormia
e flutuava páginas rasgadas
do tempo varrido
vento a vento
nas ruas da lembrança
um poço
um osso
dois corpos nus desacordados
de madrugadas interrompidas
recolhidas num balde amassado
pingo a pingo
espelhadas em líquidas rotinas
dois cães uivantes lunares
de noites ósseas desescurecidas
desenterradas das endurecidas terras
pó a pó
rodopiando pensamentos toscos
a lágrima de uma vida inteira
cai
Mírian Cerqueira Leite