Diga
Diga ao sol que teu brilho já não se chega a mim
Que seu calor se perde na escuridão que me envolve,
Diga que já não vejo o amanhecer, o dia não tem início, não tem fim
Que apenas a escuridão se move
Pois o sol não consegue chegar a quem está preso
Quem, mesmo sem paredes ao redor
Não consegue se mover, está em desespero.
Pois ao seu redor há uma escuridão que se adequa
Se move ao redor do seu corpo, como uma coberta.
Faz-te sentir confortável
Te faz sentir envolvido e também cansado,
Mas não aquece, a escuridão que envolve é fria
Ela paralisa, congela seus membros
Te incapacita.
O brilho do sol resvala em sua trama de fios escuros
Tecida com o tempo , a trama é forte
É quase um mundo.
Um mundo cheio apenas de vazio.
Mãos casadas tateiam o vazio escuro
Como olhos cegos elas procuram em silêncio
Sentem o frio da vastidão fria
Tropeçam por entre os restos de uma antiga vida
Ficam confusas em meio a objetos e roupas ali caídas,
Uma lembrança, uma memória dolorida
As mãos deixam para trás as lembranças
Elas já não são familiares,
São apenas uma memória dolorosa que se perdeu no escuro.
Seu dono já morreu a muito tempo
A escuridão o deixou duro
A trama de fios chegou seus olhos
Tapou-lhe a visão do mundo.