VIDA VÃ
Cavei a cova para o meu morto
Perto do mar, ao lado do porto
Me vendo hoje, desejei meu aborto
Enquanto crescia, senti que era torto
Não sou ninguém aqui, agora
A tristeza nunca demora, aparece na hora
Enquanto almejo que as ondas do mar levem embora
A vida que eu joguei fora
O cheiro do mar e a maré
Me afagam como um cafuné
Meus joelhos cedem, mal posso ficar em pé
Estou fraco e tremendo até
Como se manter são
Se o viver aqui é solidão?
Facilmente corroídos por uma emoção
Destruídos de alma e coração?
Quebrado como as ondas marítimas
Eu admiro sua beleza legítima
Antes de eu ser uma vítima
Da minha destruição rítmica
Aqui não tive nem sorte
Não consegui ser forte
Qualquer arranhão me era um corte
Apenas espero ter paz pós morte
Quase morrendo, ouço o mar
Me desfaço em prantos ao pensar
Nas lembranças, no meu lar
E que não poderei novamente nadar
Cavei a cova para o meu morto
Perto do mar, ao lado do porto
Enquanto crescia, senti que era torto
Me vendo hoje, desejei meu aborto