AQUÉM DE ÍCARO

De que me valem as asas neste porão?

Pura empáfia, subversão, teimosia?

Ilusão, inocência que alimenta a agonia.

E esta gravidade empurrando-me ao chão?

Se, pra voar, não serve tudo que tenha asa

Melhor ter nascido rato, e me sentiria em casa.

Tolo, inventei de criar ansas, e em arroubos sonhar!

Mas de que me valem as asas, se não há espaço pra voar?

Quem nasce pras trevas, de porões se alimenta

Se nasce pra luz, livre, pássaro se reinventa.

E a liberdade atrás da porta, aquém da emoção.

Pra que me servem estas asas, preso neste porão?