Cristais com batom
Dos olhos, uma chuva delineia enxurradas no meu rosto.
Sulcada, minha alma pisoteia a argila das lamentações. Das janelas das saudades, apenas a vista cansada da estrada vazia. Tantos jardins em sonhos, mas nada de flores para serem realmente jardins.
Há luares nas pinturas e nas poesias, mas nada de luz real.
Noite é tapete de estrelas sobre o solo das mentes lamuriosas.
Esvoaçam tristezas nas brisas suspensas
e incrédulas de serem ventos um dia.
Nos campos vazios do amor, apenas a ilusão sorri, toda inocente para as dores. Um solo de violão arrebenta cordas de silêncio e pinga uma canção. Danço na quietude do salão vasto da ausência. Sem ritmo, sem tom, sem cor. Cambaleio no entrelace das pernas sonhadas.
Poesia sem métrica! Atiro-me no absurdo das palavras amargas.
Passeio lábios, nas bordas das taças sujas de batom, há vários dias.