Miserere
Porque me faltam palavras, as sábias e oportunas;
Porque me falta a visão do Alto e o que me resta
São ecos de gritos - vidro espedaçado – e columbas
Negras, grasnando sobre o último degrau da escada;
Porque o tempo não consente mais saudade, o mar se esconde
No exato instante em que o amor vai habitá-lo
E me deixa apenas peixes mortos e os sargaços;
Porque irmão se levanta contra irmão, pai contra filho
O amigo não é mais amigo e na praça não conheço
Ninguém mais; se não mortos, solitários, sóis cansados
Quem comigo repartia o pão e repetia versos
Quaisquer signos da vespertina entrega, dissolvidas praias.
Porque falta o silêncio para a prece, já que em mim
Retumba a marcha brusca do soldado -
Peço a Deus se findem os dias meus na terra
E o personagem, do palco, seja retirado.