Quando o sangue falar
O corpo fala,
Quando a boca se cala,
O corpo se fecha,
Mas não tranca a alma.
O corpo é dicionário pálido,
De palavras do tempo sólido,
Mesmo que caia em córrego,
Ele diz até sem vida.
A visão estática do último momento,
Desenhando os esboços de um olhar corpulento,
E mesmo descendo em águas este corpo lento,
Retrata a maior ironia de viver,
Morrer é uma arte divina,
Somos todos rodeados de incêndio em resina.
Maldito és aquele que não vê socorro sem palavra,
Que se apavora em numa morte macabra,
De toda tragédia justa ao destino,
Toda justa morte parece o sacrifício de um equino.
Paradoxal considerar viver em prol de morrer,
Qual é o sentido de nunca falar e nunca ser?
Tamanha é a gargalhada de quem não ouviu,
O som ensurdecedor de um corpo que viu,
Não chorou, não sorriu,
Não correu, não sumiu,
Sem sequer uma palavra,
Nos consumiu.
Há tanto diálogo em quem corre sangue pela ferida,
Até mesmo numa cara pálida,
Ate numa hipótese fática,
Não deixa de representar a verdade na prática.
Nós são sabemos nem a verdade da vida,
Tampouco qual a cara de Deus,
Poderia saber a quem pertence essa narrativa,
Até mesmo o sofrimento silencioso dos seus.
Pois vos digo que tudo é desperdício,
Que do eterno maravilhoso vício,
Visionário é aquele que entende resquício,
Prometendo ter um pouco de empatia.
Só saberemos a verdade quando o sangue falar,
Quanto atitudes podem realmente machucar,
Aprendendo que só a palavra primitiva queima irrisório,
Nesse Processo de eterno processo inquisitório.
Sangro mesmo sem ninguém saber,
Quantos litros desse sangue imundo de meu ser,
Será derramado e encontrar ossos inanimados,
Desse turbilhão de sentimentos inominados.
Quando o sangue falar,
Talvez não tenha ninguém para falar,
Pois de seco já bastam as lágrimas enxugadas,
Que alimentam a besta de trás do trono,
Eu reino a mim,
Com sangue no cabo da espada até o seu fim.
Quando o sangue falar,
E eu voltar para reinar,
Grave as palavras que vou falar,
Cabeças vão rolar.