Úlcera

Nota inicial: Estou numa fase mais down, então meus poemas não conseguem fingir que tudo está legal. Espero que compreendam. =)

Crepitantes labaredas

Incendeiam o âmago

Eis as palavras engolidas

Destruindo a natureza

Mais pura da essência

O rosto sorri plácido

E o íntimo se deteriora

A visão da realidade

Pontua a dimensão

do desgosto escrachado

Não há pedaço de carvão

Para eu desenhar

Nos muros dessa caverna

O que sobrou de mim

Porque seguir em frente

É a ilusão que se tem

Enquanto as mãos alisam

O ventre em chamas

E os olhos não se contêm

A fraqueza se dobra

Em razão das suposições

Do não-pertencimento

Eu sou, mas eu não estou...

Eu ainda sou

Eu não sei o que sou

Mas eu ainda sou

Os sonhos

que o mundo arruinou

A tristeza pela impotência

De me deixar levar

pela correnteza

E ser programada a pensar

De forma a

não ser insuportável

Porque até o certo é errado,

Como ser eu

se ser eu é errado?

Porque se eu for eu

Estou certa

do desagrado geral

E se eu continuar assim

Vou me perder mais em mim

Trilhando na corda bamba

Se a pedida for essa,

Viva a contradição.

A dor física se controla

Há analgésicos para tal

Mas, e quando um gatilho

acionado for

e a angústia disparar?

Onde devo me refugiar?

Quando meus monstros

Fizerem sombra aos anjos

E a lua se esconder?

Quando faltarem lágrimas?

Eu deveria ter um esconderijo

Quente, secreto e seguro,

em que nada nem ninguém

pudessem perturbar a minha paz,

onde eu pudesse sonhar

e pássaros fossem livres para voar,

a arte devidamente se expressar,

desprovida de julgamentos odiosos

e desatrelada à ideia errônea

de que os números me definem

Diga sempre a verdade,

disse mamãe,

Por pior que seja ela

Alento para a manutenção

da dignidade e da honra.

Engolir em seco,

fingir que não doeu

Malandragem alada

aprendida na escola

Para evitar enfrentamentos

depois de apanhar

porque os agressores

são os detentores da razão.

Nesse duelo sempre se perde

A razão, com os gritos.

Por questionar as razões.

Porque a coragem carimba

A gigantesca punição

Calar é a saída,

de simples acesso,

pouco heroísmo.

Calar às vezes é consentir, sim.

Que decidam por mim.

Que me julguem

pelo meu silêncio

E pela ausência dele.

Se serei julgada

de qualquer forma

E condenada

em qualquer instância,

talvez fosse melhor

dizer um foda-se,

aquele foda-se mais poderoso

Que qualquer caminhão-pipa.

Um simples e honesto foda-se...

E ponto.

Questão fechada.

Se a minha vida vale,

por inteiro eu sou muito mais,

não pela metade, não calada.

Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 26/07/2019
Código do texto: T6705499
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