ESQUADROS
Espero o que vem dos planos que não faço
Finjo esquadros nas mãos, planejo a vida
Como traço em caderno velho
E caio cifrado sem metas,
sem coordenadas em novo desmaio.
Sucessivo desperdício de retórica
Planejar o amor de mãos vazias.
Olhos famintos dissimulam tristeza
Enquanto insuspeito o comboio dos deslocados
Repara culpa e remorso
Na janela da paisagem do suposto abandono.
Olhos famintos dissimulam tristeza
Insuspeito o comboio deslocado
Repara paisagem da janela.
Mas o que tem a lua de chama
Dourada nos versos dos poetas loucos
Se fria nos aparelha densa — ocos ocos no alto,
Descolada?
Somos apenas isso, personagens distraídos
Mal definidos, rascunhos no romance a ser escrito,
Com a raiz amarga do medo enfiada goela abaixo
Engolindo planos no susto inesperado
Ao longo da viagem mediada.
Ao longo da viagem imediata
Devo ter sido apenas paisagem
e o amor passageiro distração
ao meu lado distraído sentado.
*
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Baltazar Gonçalves