ESQUADROS

Espero o que vem dos planos que não faço

Finjo esquadros nas mãos, planejo a vida

Como traço em caderno velho

E caio cifrado sem metas,

sem coordenadas em novo desmaio.

Sucessivo desperdício de retórica

Planejar o amor de mãos vazias.

Olhos famintos dissimulam tristeza

Enquanto insuspeito o comboio dos deslocados

Repara culpa e remorso

Na janela da paisagem do suposto abandono.

Olhos famintos dissimulam tristeza

Insuspeito o comboio deslocado

Repara paisagem da janela.

Mas o que tem a lua de chama

Dourada nos versos dos poetas loucos

Se fria nos aparelha densa — ocos ocos no alto,

Descolada?

Somos apenas isso, personagens distraídos

Mal definidos, rascunhos no romance a ser escrito,

Com a raiz amarga do medo enfiada goela abaixo

Engolindo planos no susto inesperado

Ao longo da viagem mediada.

Ao longo da viagem imediata

Devo ter sido apenas paisagem

e o amor passageiro distração

ao meu lado distraído sentado.

*

*

Baltazar Gonçalves

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 24/07/2019
Reeditado em 27/07/2019
Código do texto: T6703365
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