Deus, onde estás?
Deus, onde estás?
Quando me pedem dinheiro na rua,
Vejo criança comendo carne crua,
Pessoas no inverno quase nua.
Deus, onde estás?
Quando me toco não lhe sinto,
Quando não falas por mim eu minto,
Quando não me moldas eu me trinco,
Quando não me usas me sinto um brinco,
Deixado em criado mudo.
Deus, onde estás?
Sem teu alimento fico cheio de ego,
Se não te vejo, faço-me cego,
Não seguras e me levo,
Até onde tua luz não me alcançou.
Deus, onde estás?
No menino que pediu comida e não dei?
No homem que pediu para engraxar e não deixei?
No pedinte tossindo no chão e não olhei?
Talvez na necessitada que não ajudei?
Quantas vezes bateu em minha porta e disse não sei.
Deus, onde estás?
No amor que rejeitei dela,
Quando calei alma tão tagarela,
Quando irritei alma tão singela,
Quando deixei a vontade dela.
Agora, o que tenho e o que me custas?
Ainda me escutas?
Porque é dor,
É silêncio,
E eu aqui,
Uma casca vazia.
Já não basta de alma imortal,
De corpo e sentimento imoral,
Mas não imortalize minha agonia,
Fazendo dessa noite uma simples ironia,
Espero amanhã ser um novo dia.