NA PRAIA DESERTA

NA PRAIA DESERTA

Um homem está sentado

sobre a areia da praia.

Veste apenas um short

e expõe sua nudez

ou parte dela,

no corpo gasto, envelhecido.

Está só e olha ao longe;

olha de tal modo, que parece

não está alí, que apenas o vaso

físico alí está, naquele momento

que semelha a ausência de vida;

da vida física,

da vida gasta, envelhecida,

e sem ele saber, sua alma

tristonha voeja sobre o mar;

talvez em sua mudez,

peça ao mar

que lhe faça companhia.

Está tão abstraído,

quem sabe, deprimido,

que não vê, não sente,

nem percebe

que um filhote de caranguejo

lhe sobe

numa das pernas cabeludas;

mas só consegue

subir até o joelho;

porque,

ao agarrar-se nos cabelos

com as puas infantis,

cai de repente,

e entra de novo

no buraco de areia,

de onde saiu, talvez,

pra consolar o homem mudo,

que continua

com o olhar fixo no mar.

O homem olha, olha, olha

pro mar; está tão triste

que não vê a beleza do ocaso

ante a tarde que finda.

E de súbito,

as lágrimas lhe fluem

pela face enrugada; e ele,

bem debilitado,

pende o corpo e cai sem vida

sobre a areia da praia.

Está só, na praia deserta.

Sua alma não está mais alí;

desprendeu-se do corpo morto.

Tristonha e perturbada,

ela se desfaz dos laços

fluídicos que lhes unia

ao corpo extinto;

e, por fim,

voa sem rumo sobre o mar...

Escritor Adilson Fontoura

Adilson Fontoura
Enviado por Adilson Fontoura em 15/06/2019
Reeditado em 16/06/2019
Código do texto: T6673876
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