NA PRAIA DESERTA
NA PRAIA DESERTA
Um homem está sentado
sobre a areia da praia.
Veste apenas um short
e expõe sua nudez
ou parte dela,
no corpo gasto, envelhecido.
Está só e olha ao longe;
olha de tal modo, que parece
não está alí, que apenas o vaso
físico alí está, naquele momento
que semelha a ausência de vida;
da vida física,
da vida gasta, envelhecida,
e sem ele saber, sua alma
tristonha voeja sobre o mar;
talvez em sua mudez,
peça ao mar
que lhe faça companhia.
Está tão abstraído,
quem sabe, deprimido,
que não vê, não sente,
nem percebe
que um filhote de caranguejo
lhe sobe
numa das pernas cabeludas;
mas só consegue
subir até o joelho;
porque,
ao agarrar-se nos cabelos
com as puas infantis,
cai de repente,
e entra de novo
no buraco de areia,
de onde saiu, talvez,
pra consolar o homem mudo,
que continua
com o olhar fixo no mar.
O homem olha, olha, olha
pro mar; está tão triste
que não vê a beleza do ocaso
ante a tarde que finda.
E de súbito,
as lágrimas lhe fluem
pela face enrugada; e ele,
bem debilitado,
pende o corpo e cai sem vida
sobre a areia da praia.
Está só, na praia deserta.
Sua alma não está mais alí;
desprendeu-se do corpo morto.
Tristonha e perturbada,
ela se desfaz dos laços
fluídicos que lhes unia
ao corpo extinto;
e, por fim,
voa sem rumo sobre o mar...
Escritor Adilson Fontoura