Veneno de Deus

O azul noite passa o véu no dia brando,

Sinalizando que o dia vem acabando,

Acaba o dia,

A alegria,

Corte profundo no presente,

Que do futuro onisciente,

Afasta a gente.

Da tua graça tirei-lhe a mão,

Desapontei de antemão,

Que dia sublime acabou em sereno,

Perdi uma benção e provei-me do veneno.

Veneno de Deus que veio formado em mãos dadas,

Dadas as circunstâncias sem palavras,

Me dando formas de pensar macabras,

Faz-te minha arras,

E me amas mais que meu transtorno.

Lobo em pele de cordeiro,

Que me espera o dia inteiro,

Deleita da sangria vermelha,

Fingindo ser ovelha,

Regozija do meu sofrimento,

Deveria ser apenas um sentimento,

Mas dá sentido ao medo,

O ombro pesa de pecado,

Me deixa sem um único pedaço.

Falso cordeiro,

Da vida, próprio coveiro,

Enterra-me de aflito,

O fogo gela a alma,

Fria e conturbada,

O gelo queima a pele,

Frostbite em epiderme.

Porquanto tempo passa,

E pelo tempo,

Atemporal ao sentimento,

Corrói e trinca,

Transpassa e tranca,

É a trança entre cosmos,

De sentimentos nossos,

Que de vossos nos fazem breves,

Instantâneos flocos de neve.

Implorando a mim para lutar,

Esse sentimento enterrar,

Da pá que pesa,

Me faz remessa,

Rodopiando em círculo de torniquete,

Fecha ferida,

Cessa envenenamento,

Quebra a fechada,

Escorre pestilência,

Da epidemia de silêncios,

Ter-me-ei morrido,

Pelo silêncio que grita ao ouvido.

A vida me sangra e eu rindo,

Perguntando qual a cor que estou sentindo,

Mesmo que vá se ruindo,

Me encontro sorrindo,

Essa dor atônita,

Me leva a uma simples crônica,

Que dessa história tem sabor,

Cheiro,

Gosto,

Som,

Tato da dor.

Mas chegará um dia que eu concretizarei minha paz,

Não poderei deleitar de nada mais,

Sentir-me em instância de agonia,

Completa ironia.

O veneno escorreu durante noite,

Quando mais me vi, foi-te,

Como foice rasgou qualquer fala minha,

Que previa, presente ou futura mudaria,

Mudança tardia,

Minha mania de fazer amargar,

Que lhe partiria,

Dona da incerteza és o tempo,

Que a cada tempo,

Não me contento.

Veneno que pingou caminho para casa,

Me fez de voz escassa,

Colocou novamente uma casca,

Deus que abençoe que não seja casulo,

Pois o cúmulo,

É ter dito nada,

Noite em ápice,

Secura em cálice,

Traste,

Desastre.

Eu sou corvo filho de Deus criado por homem,

Todo dia meus pensamentos me comem,

Lambem beiços com refeição abundante,

De estupidez constante,

Lateja minha cabeça com tanta negatividade,

Que poderia mudar até de polaridade,

Minhas vozes procuram a hora certa para dizer,

Desgraças alheias ao meu ser,

Mas rispidamente lhe desfiro contra proposta,

Que dessa aposta,

Vence o minha autonomia.

Mas se eu morrer antes de vocês,

Saibam que fora engasgado com o que não consegui dizer.

Essa noite dei tantos passos,

Andarilho como Deus me fez,

Mas com o veneno espalhado em minha veia,

Nenhum passo que dei, vivi alguma vez.

Que nasça uma alvorada,

Abençoado,

Se não,

Sequentemente terei âmago estrangulado,

Estou trincado,

Do sentimento que tu partiste o coração,

Mas quando ele se fere por sua causa,

Quem partiu motivo fora a mim.

Do veneno de Deus,

Foste eu o pecador ilustre,

Que da mais brilhante estrela do amanhã,

Afastei um passo que me encontrei,

E eu sei,

Que aborreci meu rei.

Não tão somente senhor,

Mas aquela que meu deu amor,

Essa é uma noite de massacre,

Do mais pavoroso horror,

Crescente medo do certo,

Se tornar incerto,

O é,

Virar e se.

De carta passada,

Essa lição já foi dada,

Lição importante que não quero recobrar,

Custe o que custar,

Até me quebrar.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 04/06/2019
Código do texto: T6665178
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