Cânticos da Fome e da Morte
Fiz "Cânticos da Fome e da Morte" há muitos anos, dois foram transformados em musica, o primeiro e o terceiro cântico. (Leitura longa, mas se tiver um tempo)
Primeiro Cântico (A Invasão)
Veio do Paraná-açu uma estranha gente
Nós recebemos com grande admiração
A todos eles foi oferecido grande festa
Gentis os visitantes presentes ofertaram
Nosso povo produtos com eles trocaram
Ficaram admirados com nossa floresta
E todos demonstraram muita educação
Se foram deixando saudade pungente
Tempos depois por mar grande inimigo
Traz consigo medo, ganância e crueldade
A ira do vento mais poderoso seria branda
E o céu não saberia de tamanho martírio
Aqui onde Tupã plantou campos de lírio
Revolta e medo agora é quem comanda
Nunca houve aqui tamanha barbaridade
Apenas na morte se encontrava abrigo
Etnias inteiras totalmente dizimadas
Na desolação o céu por testemunha
Clamava louca de dor toda floresta
E quem não fosse subjugado morria
Agora somente o fogo eterno ardia
E somente os abutres faziam festa
Aquela senhora que a foice empunha
Deixou a esperança e a fé desarmadas
Vingança clamaram os herdeiros
Desse vil e covarde holocausto
Revoltas em sangue quente ardiam
A morte não lhes tirou a coragem
A maldade lhe fez hospedagem
Alguns a carne do inimigo comiam
E deixando o bom senso exausto
Se foram em destinos derradeiros
Segundo Cântico (A Colonização)
As tristes figuras agora no espelho
São caricaturas que desdenham
Da nossa pobre e sutil ignorância
Fosse esse porvir o seu império
Não sobreviveria a tal mistério
Pois nele reina a imbecil arrogância
Pobres bestas que desempenham
Cargos sem ouvir nenhum conselho
São bestas desumanas, sem alma
Que sucumbe a vil especulação
Parasitas na agonia do martírio
Que não tem rumo ou paradeiro
Como ancora utilizam o dinheiro
Sem mérito, especulam o delírio
Impondo a sua torpe imaginação
Para quem não tem nenhuma calma
Profanadas as leis básicas da vida
Esvai-se minguadas de todo zelo
O pão, o suor, o lazer e a bonança
Findando a nação em desalinho
Sem qualquer rumo ou caminho
Perde-se por ultimo a esperança
Não restando ao povo um apelo
A não ser tomar drástica medida
Resta um caminho a trilhar, a guerra
Pois em tempos de paz se passa fome
Um apelo perdido e sem paradeiro
Como ultimato da paz derradeira
Não vai ser a última nem primeira
O homem se traveste de guerreiro
E se morre se mata sem ter nome
Tudo isso para defender sua terra
Terceiro Cântico (A Fome)
A fome liberta o homem
De qualquer preconceito
De qualquer moral, etc. e tal...
E anjos rasgam o céu
Com trombetas de prata
Meninos vagam em nuvens
Parcialmente sóbrios
Totalmente ébrios
Enquanto violetas
Enfeitam jardins, enfeitam jardins
Um pedaço de esperança
Um pedaço de pão
Ou toda poesia e filosofia
Será sempre vã, será sempre vã
To com fome, to com sede, to com sono...
Quarto Cântico (A Guerra)
Assumem agora aqueles deserdados
Sem rumo ou qualquer esperança
Em face de severa situação imposta
Causando danos a ordem econômica
Numa situação tragicamente cósmica
Não se conhece nenhuma resposta
Mais o poder procura uma aliança
Com aqueles outrora abandonados
Cavalos e cavaleiros são impetuosos
Numa fúria maior que o fogo eterno
A juventude debanda em cavalgada
Em um tropel com toques de guerra
Seus atos um ciclo completo encerra
Passam e a terra é de sangue regada
A vista de tudo mais parece o inferno
Sobrevivem os desejos mais furiosos
Tudo é completa e total desolação
Onde havia vastos campos verdes
Agora as cinzas povoam a paisagem
A fome alimenta a fatal violência
Falta a todos a mínima decência
Da vida não restou nem a miragem
E se tudo isso conseguires reterdes
Fugirá de ti a própria compreensão
Os poucos que restam procuram o norte
Herdeiros legítimos de caos e desordem
Perambulam como fantasmas sem prumo
A mercê de todo flagelo pelo caminho
E assim num destino cruel e mesquinho
A desesperança caminha em seu rumo
E no mundo guiado por uma nova ordem
Povoam a terra somente a peste e a morte
Quinto Cântico (A Morte)
Quando a vida se tornou fardo pesado
E a besta-fera tomou conta do mundo
Irmão foi contra o irmão um fratricida
Numa guerra pérfida sem justificativa
O homem mostrou a natureza primitiva
A humanidade fez na carne uma ferida
O destino tornou-se desalinho profundo
A paz se tornou uma coisa do passado
Em desalinho tem a cruz como modelo
Aqueles que ceifaram toda a inocência
Num ultimo olhar ainda rogam ao céu
Como se os anjos os pudessem salvar
Mas areia na cova os cobre a ressalvar
Que agora justiça mora num mausoléu
De tantas vidas tiradas sem clemência
Desce ao inferno num cruel pesadelo