Pesar das lamúrias
Ao pináculo de sentir
O fluir da metamorfose,
Perdi-me na tradução,
Despi-me de significado
E agarrei-me ao clichê
De ser um poeta em apuros.
Fui inconstante,
Inconsistente
E indiferente
No tudo que passou
E ainda sou
No nada que restou.
Ainda penso que
Sempre estarão
Incompletas as coisas
Que não tiveram
Seu final merecedor,
Fazendo-me desmerecer
O resto que ainda marca
A maneira a qual vivo hoje.
Apenas uma decepção,
Não é grande,
Não é finita,
Com certeza de que
É a única parte
Concreta dessa fantasia,
É atemporal.
Faz-me envolver
Em meus braços,
Respirar profundo
Antes de atravessar
Mais uma porta,
Vê-la se trancar para sempre
Bem atrás de mim
E perceber que
Há outra semelhante
À minha frente.
Ando em silêncio,
Espio as chamas do céu,
Fecho os olhos à brisa,
Atravesso sem olhar aos lados,
Imagino premonições
Para o destino que há
Em cada curva de esquina
Nas ruas e rodovias
No caminho até casa.
Na juventude,
Lúcida de aflições,
Ingênua ao ponto
De não saber o
Significado de suas dores,
Ainda floreia até o cair
Desta primavera efêmera,
Até murchar no outono,
Até encontrar sua eternidade
Congelada ao inverno.
Tornando-se frequente
E disfuncional a presença
De cada rosto que um dia
Esculpiam os sonhos
A imagem de algo
Que nunca foram
E não puderam se transformar.
E quando mais um adeus vier,
As lágrimas não sangrarão
Desta já ferida melancolia,
Será a versão muda
De um grito que levou com si
O fôlego que restava.
Enquanto incapaz,
Incapacitado sou
De protestar contra
As verdades absolutas
Desse dogma
O qual me guia
Cada vez mais perto
À sua descrença.
Nos trêmulos dedos,
O corpo febril
Arrasta-se em sua
Exaustão cultivada
Em momentos em que
Sobrecarregou-se
Em seus próprios padrões.
Quando tudo se passou,
Uma lamúria fantasma
Assombrou com a agonia
De ver tudo o que
Eu poderia ter segurado,
Guardado, concertado,
Mudado e versificado.
No impacto em que
Foram desmanteladas
As poucas coisas
Que residiam em mim,
Ainda sinto estar
Juntando e montando
Um quebra-cabeça
De peças faltando.
O pesar em cada
Pensamento de agir,
Ainda ando em silêncio
E assim permaneço
Em minhas respostas.
Quieto e iluminado
Pelo desejo de
Rastejar até uma saída,
Chegar até um lugar
Para enterrar todo o
Passado e futuro
No fim fatídico e inesperado
que trouxe o presente.