Cruz Branca
Ei, andarilho da encruzilhada
Ei, plantador de sonhos infecundos
É, a vida escorre em mera piada
Como o amor em uísque vagabundo
Mamãe, afaste de mim a cruz branca
Você sabe, preciso deixar minha semente
E essa mulher torna minha dor tão branda
Espasmos desperta em coração já dormente
Sinta o ritmo, querida
Mergulhe na lágrima do movimento
Liberte-se da ferrugem dos sentimentos
Pois é a vida passagem só de ida
Mamãe, tanto medo senti do mundo
Lições necessárias traz a desproteção
Cruzando o delta em pesar profundo
Espinhosas amarguras irrigando o coração
Meu leito é seu toque, mulher
Seu cheiro, o alento que persigo
No horizonte branco, todo o suor que puder
Finda o dia derramo, pouca é a dor que mastigo
Mamãe, para morrer encontrei uma razão
Sem da vida reclamar um tostão
O diabo foi-me companhia em sina tão hedionda
Noite de fadiga eterna já não me ronda
Então andarilho moribundo, ignore suas perdas
Símbolo de revolta, é o rio com suas correntes
Incerto curso nos traz a estas veredas
Vomitados tal qual vermes em areia ardente
Então querida, ampare meu colapso
Enquanto meus olhos contemplam o paraíso
Deixe a dança da vida sofrer seu rapto
Enfim veio o dia em que ganha a brisa meu sorriso
Mamãe, mamãe, a cruz branca...
Mamãe, mamãe, esperança...
Tamanha escuridão que me cerca
Desfazendo-se na luz que me liberta