CÃO SEM DONO

Sonhando a noite inteira com a imagem tua
Acordei soluçando de mágoa e saudade
E fui cambaleante andar pela cidade
Até chegar em frente à casa que foi tua.

Sentei-me no batente e com os olhos vermelhos
Verti copiosamente meu choro rasgado
Num um grito horripilante, quase que engasgado
Que formou uma cascata sobre os meus joelhos.

O tédio e a sensação terrível de impotência
Lançaram-me nas covas rasas da demência
E o epitáfio assim dizia: “Cão sem dono”

Ceifando sem clemência o que sobrou da vida
De quem adoeceu com a dor da tua ida
E morreu nas procelas do teu abandono.