Em decadência

Com cuidado,

Seguro o ontem

Em minhas mãos,

O hoje escorrega

E escapa pelos meus dedos,

O amanhã está fora

De qualquer visão.

Esvaneço junto à areia

Que cai em grãos no

Passar do tempo

Desta ampulheta,

Logo o ciclo estará

Completo assim como

Desejo que eu me torne.

Descarto de mim,

Jogo pela janela

Complementos ao

Aterro de memórias

Voluntariamente esquecidas.

Lembro antes de esquecer,

Despeço-me e peço perdão

Por toda a minha ingratidão,

Não fui capaz de conviver

Com esses fragmentos

De quem fui e o que fiz.

Nas luzes que refletirão

Em linhas e volumes

De seu rosto cheio

De lembranças agridoces,

Não o retratarei

Perfeitamente como

Eu costumava desenhar

Em imagens de pensamentos.

Não saberei o que é

Segurar a mão de alguém

E sentir que não há

Organismo algum no universo

Que esteja concebendo

O mesmo sentimento

De solidão compartilhada.

Não serás o centro

O qual orbitam

Meus versos,

Haverá um espaço

Em branco ansiando

O complemento de suas

Próprias palavras despidas

De vergonha e hesitação.

Sentirei a falta,

Assombrará-me a carência,

Porém não encontrarei

A solução, mesmo que ela esteja

Vagando pelos mesmos cantos,

Revistando os mesmos passados ou

Cultivando os mesmos futuros.

Estará na ponta da língua,

Não serei capaz de dizer.

Estará ecoando em alto som,

Não serei capaz de ouvir.

Estará me evocando uma doce nostalgia,

Não serei capaz de sentir.

Assistindo o deslocar

De todos os corpos celestes

Sem ter a ideia do que

Fora do céu a vida me reserva,

Sem o brilho que almejo

No envoltório escuro

De cada noite sozinha.

Com decadência,

Ouvirei o desamparar

E ver estas harmonias

Se tornarem imperfeitas,

O preço a se pagar

Por tê-las presente

Na vida que não pôde

Seguir corretamente

O complicado ritmo de sua sinfonia.

Daniel Yukon
Enviado por Daniel Yukon em 22/04/2019
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