Vejo
Vejo ser real e imaginário, vejo uma luz errante enquanto o nada é nada na vivacidade que sobe pelo vasto campo verdejante e “inapagável” enquanto se apaga.
Vejo apagar o que antes aceso estava e vejo que tudo não passa de uma fantasia; o amor, o perdão, a vida... A vida a qual me dão de posse, só pelo fato de ser.
Então vejo que ser é a obrigação de uma trilha traçada de poemas, sonetos e poesias. Vejo uma larga estrada, vejo e não sinto o frio elevar-se pela estrada deserta, úmida e árida. Vejo um só caminhar por essa estrada ser real e desleal e também por se resumir em tristeza, transparência, escuridão... Vejo funesto o homem hesitar a sua treva, no qual o tudo é só alguma passagem; um fato triste, “apagável.” Vejo que o fato é a liberdade de uma trilha. Uma trilha multifacetada e inútil. Sem poemas, sonetos e poesias.
Sinto e não vejo o que aceso estava agora pela imprópria e descontrolada vida se apagar. Vida talvez fútil, e a certeza que tudo não passa de ser nada; o Tulio, o amor, o perdão, a vida. A vida que um dia foi oferecida à menina que o beija tão docemente hoje, porém amanhã, o despreza pela cínica hipocrisia.
Desvairada vida hoje doce e mais tarde por ser linda a voz balbucia palavras frias.
As palavras que mentem, amarrotam e ludibriam não mais que ninguém, mas a si mesma. Palavras sem acepção, compaixão ou agrado.
Palavras que como lâminas talham o coração sim, espalhando a gentileza flebotômica por todo o corpo, por toda a alma, por toda a vida... Um cortejo que nunca se ver, entretanto se sente, jamais cicatriza... E nunca cicatriza o coração que antes de apalpar o amor, já esta amando sem conexão e temor.
Eis que vejo o sofrimento real. Parte da vida, de quem tudo nela viveu: o dissabor, o desalento, o langor de todo fato.
Vejo o ser por ser, ser à parte do que vivo e vejo ser, não mais como nascente ou o poente para se viver, mas viver estático jamais! Quem sabe uma vida voraz, só pelo fato de ser. Ser eu e não você. Quem sou eu? Quem é você? Que pela isenção da fé às vezes se perde, no caminho profetizado por um homem imaginário.
Vejo, mas nem todos, serem tendentes ao amor e quem um dia nele viveu, com certeza chorou pelo filho exilado do mundo, pela amada que sangrou mutilada neste sentimento, e ver e sentir tudo isso talvez pra ela seja ocorrência inesperada.
Vejo que vivi, e senti todo esse sentimento, que neste poema foi, é, e estará a todos, sempre revelado. Sempre, a quem quiser, revelado.
Rio de Janeiro, 12 de julho de 2005.